Copas, copos e corpos.

Chinelo, bermuda, copo de cerveja na mão, futebol na telinha. Jeitão brasileiro de relaxar. Nesse clima pus a caneta no papel. Na verdade acionei o teclado. Caneta não tem "tab", nem "insert", muito menos "delete". Desde 95, virei um ser digital. Mas seres digitais também assistem Copa. E vamos aos fatos.

Dominando o jogo com muita garra, bom toque de bola e algumas finalizações ingênuas, vi a Costa do Marfim perder da Argentina num injusto 2 x 1. Imaginei em casa, meu pai rasgando a própria carne, de desgosto pelos azuis e brancos paparem essa. Rivalidades a parte, vamos analisar friamente. Apanhar de pouco, considerando que foi da Argentina, já não tem gosto tão ruim. Pra quem participa da Copa pela primeira vez até que está de bom tamanho.

Como diz meu pai: Nem sempre é o melhor que vence.

Eles são vices da Copa da Africa. Alguem notou que o Egito, atual campeão africano, não classificou? E alguem também notou, sem trocadilho, que o Peru não entrou?

Torci pros negões. Como o nome diz, a "Côte D’Ivoire" foi entreposto de comércio de marfim na época colonial sob dominação francesa, sem falar no fornecimento de escravos se voltarmos mais algumas décadas. Recém saídos de uma sangrenta guerra civil que durou dois anos, de 2002 a 2004, merecem alguma alegria.

Desconhecido por aqui, o país só recebeu algum destaque na imprensa, muitos anos atrás, quando um vôo da Varig se espatifou pouco após decolar de Abidjan (foto), espalhando 50 corpos pela floresta tropical marfinense. Uma daquelas rotas que o governo brasileiro da época subsidiava em nome de maior visibilidade e presença brazuca no exterior. Era um boeing 707. Alguém lembra? Pior que ele só so DC-8. Muito desconfortáveis. Voei em ambos e posso dizer que após um longo vôo, o passageiro chegava "morto".

No caso dos passageiros daquele vôo Abidjan-Rio, disso não se tem dúvidas.