24 junho 2006

Sem eira nem beira.

A não ser que você estivesse com torcicolo, difícilmente já andou olhando para cima pelas ruas do centro histórico da cidade. Não é uma boa idéia de qualquer forma. Sempre ha o perigo de ser atropelado, ou bater com a cara em um poste, como já aconteceu comigo em Curitiba uma vez.

Mas experimente observar qualquer dia destes. Você verá que a maioria dos casarões coloniais, como os da foto, tem uma parte do telhado pronunciado para a frente, como os nossos beirais de hoje em dia. No tempo de colônia aquilo se chamava “eira”. Logo abaixo, você perceberá um detalhe decorativo em relevo, como os que se fazem atualmente em gesso. Esse detalhe era a “beira”. Algumas vezes ha detalhes menores ornando a “beira”, chamados então de “entre-beira”. A linha mais alta do telhado, acabada com telhas côncavas, como até hoje se faz, também leva o nome que até hoje se dá: “cumieira”.

Estes detalhes construtivos eram caros, somente endinheirados podiam ostenta-los. Os mais humildes tinham casas com telhado simples, que acabava abruptamente rente à fachada. Ha alguns exemplos ainda em pé em Paranaguá. Ou seja, os pobres moravam em casas sem eira e nem beira. Daí vem o velho chavão popular “sem eira nem beira”.

De onde tirei isso? Nos tempos de faculdade, sempre prestei atenção nas aulas do querido professor José de La Pastina Filho, arquiteto do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e um dos maiores experts em arquitetura colonial no Brasil além de expoente da arquitetura sustentável, tambem chamada de ecológica. Seus projetos utilizam materiais naturais da própria região e a construção é planejada levando em conta a insolação, ventos predominantes e todos os fatores ambientais possíveis para que o conforto dos ocupantes seja garantido sem intervenções tecnológicas ou mecânicas como aquecedores, ventiladores ou ar-condicionado. O cara é fera. Morar numa casa projetada por ele é um previlégio. Mas previlégio caro. Como não vive disso, pode dar-se ao luxo de aplicar sua própria tabela. Nunca menos de 10% do valor integral estimado da obra.

Ainda assim, aqui em Paranaguá, conheço duas residências que levam sua assinatura. Uma com varandas treliçadas em madeira, na Avenida Gabriel de Lara. E não faço idéia de quem foi o morador original que encomendou o projeto. Outra é a residência da família Dantas no Jardim Guaraituba. Já estive lá e posso dizer que é uma verdadeira obra de arte.

Os Dantas, por falar neles, foram excelentes clientes nos tempos em que trabalhei, aproveitando o conhecimento que adquiri como viajante, com turismo. Um dos roteiros que mais curti elaborar foi para eles. Incluia boa parte do velho sul americano, subindo o Mississipi e seguindo até a Georgia. No caminho; New Orleans e seu French Quarter; Baton Rouge e as barcas de pás do Mississipi; a Ilha de Avery, onde é fabricada a pimenta Tabasco original; Nashville, meca da música country; Memphis e Graceland, a “fazenda-santuário” de Elvis Presley; as Smooky Mountains e a destilaria onde se faz o meu bourbon preferido, o Jack Daniel’s (sim, ele não é whisky, mas um bourbon, e dos bons bourbons, sem trocadilho); Chatanooga e o museu ferroviário; e finalmente Atlanta com sua arquitetura moderna e o museu da Coca-Cola, que tem lá seu berço e sua sede.

Meus roteiros de viagem eram especiais, feitos para viajantes especiais. Gente que sabe aproveitar a experiência e transformar uma viagem num patrimônio cultural pessoal para o resto da vida. Ainda hoje, sou chamado as vezes a dar dicas de viagem para meus antigos clientes. Sempre é um prazer.

Infelizmente é um prazer que não me rendeu estabilidade financeira. Por isso ainda ando por aqui, largado, sem eira e nem beira.

E não é que rimou?

22 junho 2006

Tomaram de quatro!

Por essa os japoneses não esperavam. Nem eu. Após dois vitoriosos fiascos e tantas críticas sobre o quadrado mágico não estar jogando redondinho, a seleção brasileira entrou em campo com os pesos do descrédito, da cobrança e do Ronaldo.

Não tive hoje na torcida a companhia de meu pai, retido na Ilha do Mel pelo forte vendaval de ontem e as más condições do mar de hoje. Meu irmão, mais esperto, acompanhou o jogo em algum bar. Restou acompanhar o jogo com mãe e tia. Nada contra a companhia feminina, mas a torcida de minha mãe resume-se a ficar gritando “vai, vai, vai” e “escanteio”, palavra que deve ter aprendido a pouco tempo, e não perde a chance de praticar. Seja realmente escanteio ou qualquer outro lance. Minha tia ficou sentada de lado, sem visão da tela da tv, sob a explicação de que fica nervosa de ver o jogo e prefere só escutar. Não era pra tanto. Afinal o jogo, pra classificação, não valia mais nada.

O comentário mais hilário durante a partida não partiu do mala do Galvão Bueno.

Minha tia não resistiu, e de canto de olho acompanhou uma jogada. E lançou: “como são rápidos os japoneses”. Minha mãe recebeu na área com: “os japoneses são pequenos mas funcionam”. E eu, de cabeça, finalizei com: “isso é o que costumam dizer as japonesas”.

É non-sense assistir a vibração de um brasileiro, no caso o Zico, vendo o Brasil tomar gol. Claro que ele não estava comemorando a tragédia brasileira, mas seu próprio sucesso como técnico. Mesmo assim é estranho. E dali pra frente ele só teve motivos pra chorar.

Filigranas do jogo: sempre é tocante analisar o semblante dos jogadores que fazem seu primeiro gol com a camisa brasileira numa Copa do Mundo. Dá pra imaginar e se emocionar com a alegria de Gilberto Silva e Juninho Pernambucano. Ainda que a "comemoração" de Fred, no jogo anterior contra a Australia, tenha sido muito mais divertida.

Sobre o desempenho de Ronaldão, não senti muitas mudanças. Pros dois gols, ele contou com a própria competência em estar bem-posicionado, mas mais ainda com o talento dos demais jogadores em armar a jogada e fazer passes e finalização corretamente. Mas Ronaldo, ninguém nega, e agora comprovado, é um atacante de peso. Cinco kilos mais magro e também, depois dos gols de hoje, sentindo-se bem mais leve.

Sem desmerecer o jogador, que já foi um dos melhores do mundo e ainda é, temos que admitir que foi uma decisão temerária escala-lo para a Copa, considerando que desde 1998 ele passa mais tempo em hospitais e em clínicas do que em campo. Pro tamanho da fera, ele é um tanto frágil. Qualquer bolhinha no pé ou dor de cabeça e lá vai o cara pro hospital. Tô até agora tentando entender o motivo da endoscopia realizada na Alemanha pra quem alegadamente se queixava apenas de dores de cabeça.

Durante semanas, com o pífio desempenho em campo da nossa seleção, discutiu-se muito a escalação do Ronaldo. Como dizia o Galvão, o Brasil inteiro torcendo pra ele se achar em campo e mostrar o futebol que sabe. Cá entre nós, o Brasil inteiro estava torcendo sim, por absoluta falta de opção. Visto que não havia santo que fizesse o Parreira desistir de escalar o cara, só nos restava torcer por ele mesmo.

Mas o que importa é que vencemos. O que importa é que ele fez dois gols pra limpar sua barra e tranquilizar o Brasil. Pro desespero dos japoneses, que não esperavam tomar goleada, e muito menos tomar de quatro; ele deixou de ser o Ronaldo Baleia pra ser tornar algo realmente aterrador. Pelo menos para os goleiros:

Ronaldo, a baleia assassina.

18 junho 2006

O céu, ou o inferno, ficou mais divertido.

Naquela manhã, tempos de Copa, tava começando a rolar a bola entre Portugal e Iran as 10 horas, e eu mal tinha acordado. Olhos remelentos e raciocínio lento, me encaminhei pra frente da tv, quando meu pai avisa, com voz solene, que tinha morrido o Muçunga.

Assim de cara, pensei tratar-se talvez de uns dos jogadores de Gana, ou quem sabe, Angola. Só consegui responder um: "Ah tá! E quem era esse Muçunga?". E ele: "Pô, o Muçunga do Casseta e Planeta". Vixe. É Bussunda pai! Bussunda!

Então o cara se foi. Já era assunto na padaria pela manhã. E na revistaria após o almoço também. Gosto muito de uma na Roque Vernalha, quase em frente ao campo de futebol do Eldorado. O proprietário, "Seu" Izair, é muito bom de papo, bem articulado e informado. Recomendo pra quem sente falta de uma conversa agradável e com conteúdo. E se der trela, o papo vai embora por horas.

Pois ao entrar na revistaria, cheia naquela hora, a tv ligada no telejornal, tava sendo apresentanto o obituário do Bussunda. Todos prestando muita atenção, volta e meia algum comentário de aprovação ou admiração pelo cara. Ia embora exatamente na hora em que terminou o relato. E no silêncio respeitoso que se seguiu, tive tempo de dizer em voz alta enquanto saia: - E além de tudo era bonitão! Risos. E um senhor idoso lá no canto complementou meu comentário dizendo com uma voz muito engraçada: - Lindju !!!!

Bom, de fato o cara era um grande humorista. Principalmente na largura. O programa não será a mesma coisa sem ele, e não há na equipe alguém pra ser promovido pro seu lugar. Talvez quem sabe aquela vaca que joga futebol. Mas ela só se compara a ele no tamanho.

Se pedissem minha opinião, pra uma substituição, já teria uma solução engatilhada. É só esperar o Ronaldo Fenômeno engordar mais alguns kilinhos. Afinal, eles já eram cara de um focinho do outro. A diferença é que o Ronaldo não tem tanta graça, e de corpo não era tão grande. Mas já está chegando lá. Aliás, o único fenômeno que reconheço nele, e dos inexplicáveis, é a insistência do Parreira em continuar escalando o cara como titular.

Bussunda fez muita gente rir e aproveitou bem a vida, intensamente. Seu único arrependimento, onde quer que esteja, deve ser o de não ter feito uma saída em grande estilo. Porque pode ter morte mais sem graça do que uma simples parada cardíaca? Pra mim morrer de parada cardíaca já está de bom tamanho. Não sou exigente no quesito "como será o meu fim". Mas pra ele ...

Li uma vez que um jogador de futebol pernambucano morreu eletrocutado ao abrir, descalço, um freezer defeituoso. Isso sim é engraçado. Mas Bussunda não teve esta sorte. Foi mesmo é muito azar, até porque, estatísticamente, parada cardíaca aos 43 anos é raro.

Conheci um sujeito que morreu de parada cardíaca aos plenos 28 anos. E sozinho num quarto de hotel, sem ninguem pra ajudar ou assistir. Pelo menos este hotel era em Cancun, e o apartamento com vista pro mar turquesa do caribe mexicano. Isso sim, é morrer em grande estilo. Dá até gosto.

Meu medo é morrer de um piripaque qualquer, em dia de chuva, pedalando bicicleta, e cair de cara numa poça de lama. Seria acabar muito por baixo. Mas, pra qualquer eventualidade, meu plano de auxilio funeral do Dorinho tá garantido. E nem sou eu quem pago. É o meu velho. Graças a ele, não corro o risco de dizerem que não tenho onde cair morto. Tenho sim. O problema tá sendo conseguir um lugar aonde cair vivo. Não vejo a hora de ter meu canto. Já passei, e muito, da fase de morar com os pais.

Mas enfim, voltando ao assunto, onde quer que esteja, céu ou inferno, Bussunda estará fazendo sucesso. Vai tirar muito sarro da cara de São Pedro, ou do capeta. Enquanto nós aqui, temos cada vez menos motivo pra rir. Porém, mesmo com pouco motivo pra rir, tenho muito amor a vida. E, sinceramente ...

Morrer é a última coisa que quero que me aconteça.

16 junho 2006

Vou roubar aquela boneca!

Quando voltei a Paranaguá, mais como filho pródigo do que filho prodígio, não estava familiarizado ainda com os loucos e malucos locais. E eles são tantos, que quando cheguei nem me notaram. Afinal, um louco mais, um maluco a menos...

Temos também outros malucos: os "beleza". Ô cidade pra ter maconheiro! Nada contra a maconha. Sem hipocrisia. Sou brasileiro, saudável, normal e já fumei. Mas não é a minha. Não me incomoda nem a erva e nem quem a fuma. E digo mais: sou dos que nem a consideram droga. Antes que alguém diga que o simples fato de não ser contra já me torna um ser a favor, ou que estou fazendo apologia ou qualquer merda destas:
- Não! Não recomendo. Consigo imaginar maneiras melhores de ocupar o meu tempo ocioso e a cabeça. Mas estou falando por mim.

Na verdade o que incomoda é papo de maconheiro. Meu caneco! Será que eles não tem outro assunto do que a erva? Quem já não viu aquela cena, deles reunidos fumando, e, sabe Deus como, conseguindo conversar por horas sobre o mesmo assunto. A maconha. Se é boa ou não é, se é melhor que a que fumaram antes ou não é, e por ai vai.

Valha-me! Imagine se quem se reune pra tomar umas cervas perdesse tempo conversando sobre lúpulo, cevada, malte e a cor da garrafa. Que porre ! Ou ir a uma caranguejada e passar a tarde falando sobre as diferentes cores da carapaça, e discutindo acaloradamente sobre quantas patas o caranguejo tem. Assim como o caranguejo, esse papo não tem como ir pra frente.

Se você fuma e está se sentindo ofendido pelo meu texto, relaxa. Você pode ser a exceção que confirma a regra.

E tem mais. Boa parte dos que fumam, nem curtem, só o fazem pela glamourização do ato. É tanta repressão, controle social e preconceito em cima da coisa. E sabe como é cabeça de adolescente. Querendo se auto-afirmar, destacar-se na multidão, sentir-se fazendo a diferença. Só esperando um grupo pra entrar. Haaaaa ... e ele se sente "o cara" fazendo algo discriminado, recriminado, e criminalizado. Ele é "o bom" porque fuma. Grande merda que ele faz!

Se liberassem logo essa "droga", em todos os sentidos, acabou. Perderia todo o glamour e o interesse dos que a usam para auto-afirmação ou chamar a atenção da família e da sociedade. E de quebra acabaria com uma das fontes de renda dos traficantes. Só ia fumar mesmo quem gostasse da coisa, mas seria escolha deles.

A grande preocupação mesmo são as que causam dependência química. Cocaína e crack estão destruindo lares, famílias e relacionamentos e aumentando a criminalidade em nossa cidade. Mas isso já é outra história.

Tô divagando. Minha inspiração pra este texto foi a louca da boneca.

Logo que cheguei aqui, um belo dia, ela cruzou comigo numa esquina (não como cruzam cachorro e cadela é claro, só pra esclarecer!) e me seguiu por todo o centro da cidade. Como eu apenas via que alguem me seguia, não prestei atenção, nem encarei. Com o canto dos olhos achei que era uma mulher com uma criança no colo. Pirei. Achei que podia ser uma candanga que me confundira com o pai do filho dela que a abandonara anos atras fugindo com uma loira que trabalhava num circo. Ou seja, na minha cabeça, já se passou um filme, como diria meu camarada Valmir.

Ela me seguiu das proximidades do Hospital da Santa Casa até a Panificadora Pão e Vinho, e pior, ficou parada do lado de fora me encarando, enquanto eu, fingindo que não a via, tomava forçadamente o café que pedira. Que era louca eu já sabia. Que era inofensiva, isso não. A última coisa que eu queria naquele momento era uma doida fazendo escândalo em público exigindo que eu assumisse um filho.

Se tivesse ao menos olhado pra ela antes, ja teria me tranquilizado. Tava na cara que não passava de uma mendiga. Na padaria me contaram a lenda que corre, sobre ela ser uma mãe que matara ou perdera um bebê, e que passa seus dias andando com aquela boneca pelas ruas mendigando. Cá entre nós, a ultima vez que a vi a boneca estava muito bem tratada, já ela, os mesmos trapos de sempre.

Me pergunto o que há de lenda e de verdade nessa história. O fato é que ela é chata pra cacete quando entra em locais públicos e faz aquela gritaria que já presenciei algumas vezes. Hoje mesmo, na panificadora "O Gato que Ri", entrou ela aos berros. pra ser logo enxotada pela Dona Ângela, com aquela gentileza que lhe é peculiar.

Se você está curioso sobre porque vivo em panificadoras: é que sou doido também por café. Especialmente aquele forte, espesso, fumegante e aromático que só encontro em padarias.

Voltando ao assunto, já estou de saco cheio dessa doida. Qualquer dia, darei eu um susto nela. Agarro a boneca e corro com ela. Portanto, se num dos próximos dias você me vir correndo com uma louca atrás. Já saberá as duas coisas que aconteceram.

Uma é que roubei a boneca da louca. A outra é que enlouqueci de vez.

Pena de morte para os suicidas!

O Japão agora preocupa-se com os suicídios. Estão elaborando um plano de contingência para diminuir as estatísticas que o colocam entre os tops das taxas de suicídio no planeta. Será que vão radicalizar ? E condenar à morte os suicidas ??

E morrem, digo, se matam, como moscas. Os japas se encontram em sites e foruns de suicídio e marcam data e hora pro suicídio coletivo. Maior sucesso. Alguns gostam tanto que querem repetir. Mas não dá.

E tem os que marcam por IMs, como o MSN Messenger. Dá pra imaginar o papo:
-E ae galera, qual é a boa pra hoje ?
-Ae, naum sei. Tá o maior tédio.
-Ows, que cê acha da gente se matar?
-Ae, gostei! Não tenho nada marcado pra hoje mesmo.
-Entaum vamos nessa!!!!!!!!!!!!!!

Isso é preocupação de rico. Pobre tá tão preocupado com tentar sobreviver que não tem tempo de pensar em se matar. E não é piada. Não é a toa que as taxas de suicídio crescem na mesma proporção em que cresce o IDH (índice de desenvolvimento humano). Quanto maior a renda per capita, a expectativa e o padrão de vida de um povo, maior sua taxa de suicídio. Paradoxal né? Justamente quem não tem que se preocupar em levar uma vida miserável é quem mais quer dar cabo dela.

Claro que há exceções, a Russia por exemplo, que encabeça a lista, e não tem nem sombra do padrão de vida exibido pelos demais países que da parada de sucessos do suicídio. Ninguém consegue explicar porque o povo se mata por lá. Eu "morro" de curiosidade por saber.

Parece o ser humano é movido pela esperança de dias melhores. De ter o que comer, o que vestir e ter uma vida digna. Os paises desenvolvidos tem políticas sociais tão avançadas que não falta emprego, escola, comida, lazer, saúde. O sujeito acorda pela manhã e não tem motivos pra levantar da cama. É sério. Ele já tem tudo. Em certos países, médico, hospital e escola de qualidade são gratuitos. Se o cara não quiser trabalhar o seguro social o sustenta. Ele vai levantar da cama pra lutar pelo que? Se já tem tudo?

Claro, ambição social e material náo é tudo. Sempre há os que aproveitam o elevado padrão de vida pra saciar sua sede de cultura e conhecimento, e quer cada vez conhecer e saber mais. Os australianos e neo-zelandeses são os povos que, em números relativos, mais viajam no mundo. E olhe que eles estão quase lá no fim do mesmo.

É claro também que a vida boa pra quem não tem pendor pra atividades culturais, pode ser uma faca de dois gumes. Como disse alguém, "cabeça ocupada não pensa merda". E a desocupada? Basta ver as estatísticas de problemas com drogas e com a Aids entre a juventude brasileira. Os maiores índices, excluindo é claro, cidades portuárias e fronteiriças, onde há outros fatores envolvidos, são sempre em ricas cidades do interior dos estados do Sul e Sudeste.

O que tirei de moral desta história? Achei uma explicação para a motivação dos políticos brasileiros. Eles estão tão preocupados com nossa integridade física, que nos mantém na miséria, pra que não pensemos em nos matar.

Essa foi de morte!

15 junho 2006

Enquanto isso ...na Alemanha

Futebol. Coisa que em alguns países falta, no Brasil abunda.

10 junho 2006

De pequeno se torce o pepino.

Essa expressão é do vocabulário da minha avó e nunca soube sua origem. Mas ilustra meu ponto.

Pro bem ou pro mal, como diria meu amigo baiano Breno, certos mecanismos de controle social e a própria mídia vão incutindo conceitos e idéias no nosso cérebro na construção da tal "consciência coletiva". Muitos preconceitos se alimentam disso.

Desde moleques, vamos sendo bombardeados de mensagens subliminares incitando o ódio aos argentinos. Isso acaba gerando uma antipatia gratuita e infundada pela nação hermana que acaba transcendendo a rivalidade do bate-bola no gramado.

Mas e o porque disso? Arriscaria um palpite que a origem pode ter sido pelo menos em parte, por puro despeito de uma ou outra parte, ou de ambas, causado pelo olho gordo na situação econômica do vizinho. A tendência à mesquinharia de invejar o padrão de vida alheio parece ser forte em ambas as culturas.

Receita para a rivalidade

Temos mais território, e mais população. E como temos população! Enquanto você lê isso, muitos brasileirinhos estão sendo feitos por todo o Brasil. Ou você acha que os motéis não tem um bom movimento em horário comercial? Mesmo assim, até meados da década de 70 a Argentina foi o pais mais poderoso e influente da América do Sul. Não é de graça que os americanos de meia-idade insistem em citar Buenos Aires como capital do Brasil quando perguntados.

Graças a uma eficiente política educacional, ítem comum a Chile e Uruguai, os argentinos eram mais cultos e desenvolvidos. No início da década de 70 a renda per-capita argentina era no mínimo três vezes maior que a nossa. Vivendo em cidades limpas, bonitas, e com um alto grau de consciência da importância da preservação de sua história, cultura e arquitetura, os argentinos sentiam-se orgulhosamente como os europeus da América do Sul. No sentido de país com melhor padrão de vida. Esse sentimento era e é (se bem que hoje está mais pra ressentimento) mais forte entre os "porteños", como são chamados os habitantes de Buenos Aires. Cidade que ainda hoje guarda ares de Madrid. Esse orgulho pode ter sido confundido com empáfia. Isso incomodava? Seria a inveja o estopim causador da antipatia aos argentinos? Ou seria estes estopim o desconforto dos brasileiros com a soberba gerada pelo excessivo orgulho argentino?

Porém após sucessivas crises, a Argentina foi empobrecendo. Hoje, por mais que ainda sub-desenvolvidos, estamos sim, numa situação mais confortável que a Argentina. E não dizem que "quem foi rei nunca perde a majestade"? Incomodaria aos argentinos enfrentar a realidade de assistir ao vizinho ex-pobre, e, pecado dos pecados: "burro"; te-los ultrapassado em quase todos os campos do desenvolvimento? Isso deve doer. Eu melhor que ninguem entendo bem essa dor e amargo uma certa frustração quando relembro o padrão de vida que já tive no passado. Mas sem trocadilho inspirado na Copa: Bola pra frente!

Continuando, somada a rivalidade esportiva cultivada nas ultimas décadas, criou-se um "ranço" entre os dois países que precisa ser trabalhado pelas próximas gerações. A Argentina historicamente sempre foi nossa aliada mesmo em episódios canhestros, e movidos por interesses excusos, como a surra dada no Paraguai do Solano Lopéz só pra atender os interesses econômicos britânicos. Que me perdoe meu cunhado que é inglês, mas dizimar metade da população masculina econômicamente ativa de um país apenas para manter seu poderio econômico na região é quase um genocídio. E Argentina e Uruguai dividem com o Brasil essa vergonha. E ainda como maiores mercados consumidores e potências industriais da América do Sul, a cooperação bi-nacional deveria ser um caminho natural. O Mercosul foi um avanço no campo econômico. Mas uma maior união e a exploração do conceito de fraternidade e latinidade só nos faria bem.

Amo Buenos Aires, seus "boulevards" e seus cafés, seu povo boêmio e bem-educado. Lá o mais humilde taxista consegue desenvolver qualquer assunto com inteligência e coerência maior do que a encontrada na elite da maioria das cidades brasileiras. Essa foi pra bom entendedor. Mas se você é mal-entendedor, sim, estou falando de Paranaguá. E posso falar, porque sou daqui.
Apesar disso, arraigado lá no meu subconsciente, o preconceito falou mais forte. Eu sempre torço, involuntariamente, por qualquer país que jogue contra a Argentina. Assim como a maioria dos brasileiros. Uma unanimidade. E como dizem, toda unanimidade é burra.

E você, qual sua maior alegria? Ver o Brasil ganhar ou a Argentina perder ?